CONHECER A TEOLOGIA DA LITURGIA
Pe. José Ricardo Barros de Sales(*)
 
Dia
 04 de Dezembro celebraremos 48 anos da promulgação do primeiro fruto do
 Concílio Vaticano II pelo Papa Paulo VI. Na III seção pública do 
Concílio é aprovada a Constituição Apostólica sobre a Liturgia - 
Sacrosanctum Concilium (Sagrado Concílio) - com 2.147 votos contra 4.
Logo
 no proêmio, ao apresentar os desejos de reforma e incremento da 
Liturgia do Concílio, a Constituição apresenta uma rica Teologia da 
Liturgia que achamos por bem ruminá-la, ou seja, refletir com calma e 
cuidado neste re-lançamento do Jornal A AÇÃO que graças à Pastoral da 
Comunicação Diocesana volta a circular nesta nossa Igreja particular de 
Crato.
No número 2 da SC assim escrevem os Padres Conciliares:
“A
 Liturgia, pela qual, especialmente no sacrifício eucarístico, «se opera
 o fruto da nossa Redenção», contribui em sumo grau para que os fiéis 
exprimam na vida e manifestem aos outros o mistério de Cristo e a 
autêntica natureza da verdadeira Igreja, que é simultâneamente humana e 
divina, visível e dotada de elementos invisíveis, empenhada na ação e 
dada à contemplação, presente no mundo e, todavia, peregrina, mas de 
forma que o que nela é humano se deve ordenar e subordinar ao divino, o 
visível ao invisível, a ação à contemplação, e o presente à cidade 
futura que buscamos. A Liturgia, ao mesmo tempo que edifica os que estão
 na Igreja em templo santo no Senhor, em morada de Deus no Espírito, até
 à medida da idade da plenitude de Cristo, robustece de modo admirável 
as suas energias para pregar Cristo e mostra a Igreja aos que estão 
fora, como sinal erguido entre as nações, para reunir à sua sombra os 
filhos de Deus dispersos, até que haja um só rebanho e um só pastor.”
Notamos
 claramente uma reconquista da compreensão teológica do culto que na 
antiguidade cristã se concebía como Sacrificio Eucarístico. Vemos que 
nessa teología do culto o Mistério de Cristo invade toda a vida cristã. O
 centro desse culto é Cristo, morto e ressucitado. Ao Sacrificio de 
Cristo toda assembleia celebrante é inserida. O Sacrificio de Cristo é o
 Sacrificio do Cristão. 
Assim,
 tudo o que se refere ao serviço de Cristo pela salvação da humanidade é
 associado aos seus discípulos-missionários. Por exemplo, a convicção 
dos primeiros cristãos sobre o novo Templo que é Cristo, derivava a 
certeza que toda comunidade cristã são pedras lapidadas pelo Espírito 
Santo. Do mesmo modo, a teología do altar como sendo o Senhor que se 
oferece como vítima de expiação, leva os cristãos a reconhecerem que são
 altar, a exemplo de Cristo. Por fim, quanto ao Sacerdócio de Cristo – 
Único, Sumo e Eterno – os cristãos assumiam com fé a  participação neste
 Sacerdócio (dimensão real e dimensão ministerial). Toda a existencia 
cristã transforma-se no exercício de um sacerdócio santo, para oferecer 
sacrifícios espírituais a Deus por meio de Jesus Cristo.
Como diz anteriormente a citação da SC “…Exprimam na vida e manifestem aos outros o Mistério de Cristo e a autêntica natureza da verdadeira Igreja…”
 Eis o desafio para todos nós, eis o desafio para a Igreja de Crato que 
se prepara para celebrar cem anos da presença de Jesus e do seu 
Evangelho no chão da sua história.
Devemos investir no sonho do Concílio que busca comunidades cristãs que celebrem uma Liturgia “…que
 edifica os que estão na Igreja em templo santo no Senhor, em morada de 
Deus no Espírito, até à medida da idade da plenitude de Cristo, 
robustece de modo admirável as suas energias para pregar Cristo e 
mostrar a Igreja aos que estão fora, como sinal erguido entre as nações,
 para reunir à sua sombra os filhos de Deus dispersos, até que haja um 
só rebanho e um só Pastor.” Por isso, os ritos cristãos 
(batismo, Eucaristia, Confirmação etc.) deverão ser a expressão perfeita
 e única do culto espiritual, porque são sinais nos quais se condensam a
 presença santificadora do mistério de Cristo e sua presença 
santificadora nos fiéis.
Acreditemos
 na ação do Espírito que tudo recria e renova e tomemos cuidado com 
certas correntes ideológicas que buscam ofuscar o verdadeiro sentido do 
culto onde a vontade de fazer espetáculo não é menos evidente que a 
intenção de colocar uma auréola de sacralidade nas pessoas e nas coisas 
que intervêm na ação cultual. Renunciemos, portanto, uma liturgia que se
 torna espetáculo e abracemos todos juntos uma liturgia que se faz vida.
 O Culto Litúrgico almejado por toda Igreja não é a de uma ação 
organizada ao lado da vida, mas constitui a mesma razão do ser cristão, 
isto é, criar seres humanos que vivam em Cristo.
Laudent te, Domine, ora nostra, laudet anima, laudet vita;
et quia tui muneris est quod sumus, tuum sit omne quod vivemus.
Per Christum Dominum Nostrum.
Que nossas bocas te louvem, Senhor, louve a alma, louve a vida;
pois tudo o que somos de ti recebemos, é teu tudo o que vivemos.
Por Cristo Senhor Nosso. (Sacramentário Veronense 1329)
Pe. José Ricardo Barros de Sales é
 Mestre em Teologia com especialização em Teologia Litúrgica pelo 
Instituto Superior de Liturgia de Barcelona-España; Professor do Curso 
Teológico do Seminário São José da Diocese de Crato; Assessor da 
Pastoral Litúrgia Diocesana e Vigário da Paróquia de São José Operário –
 Crato-Ce.