quarta-feira, 9 de maio de 2012

ARITIGO DO PADRE JOSÉ RICARDO

CONHECER A TEOLOGIA DA LITURGIA
Pe. José Ricardo Barros de Sales(*)



Dia 04 de Dezembro celebraremos 48 anos da promulgação do primeiro fruto do Concílio Vaticano II pelo Papa Paulo VI. Na III seção pública do Concílio é aprovada a Constituição Apostólica sobre a Liturgia - Sacrosanctum Concilium (Sagrado Concílio) - com 2.147 votos contra 4.
Logo no proêmio, ao apresentar os desejos de reforma e incremento da Liturgia do Concílio, a Constituição apresenta uma rica Teologia da Liturgia que achamos por bem ruminá-la, ou seja, refletir com calma e cuidado neste re-lançamento do Jornal A AÇÃO que graças à Pastoral da Comunicação Diocesana volta a circular nesta nossa Igreja particular de Crato.
No número 2 da SC assim escrevem os Padres Conciliares:
“A Liturgia, pela qual, especialmente no sacrifício eucarístico, «se opera o fruto da nossa Redenção», contribui em sumo grau para que os fiéis exprimam na vida e manifestem aos outros o mistério de Cristo e a autêntica natureza da verdadeira Igreja, que é simultâneamente humana e divina, visível e dotada de elementos invisíveis, empenhada na ação e dada à contemplação, presente no mundo e, todavia, peregrina, mas de forma que o que nela é humano se deve ordenar e subordinar ao divino, o visível ao invisível, a ação à contemplação, e o presente à cidade futura que buscamos. A Liturgia, ao mesmo tempo que edifica os que estão na Igreja em templo santo no Senhor, em morada de Deus no Espírito, até à medida da idade da plenitude de Cristo, robustece de modo admirável as suas energias para pregar Cristo e mostra a Igreja aos que estão fora, como sinal erguido entre as nações, para reunir à sua sombra os filhos de Deus dispersos, até que haja um só rebanho e um só pastor.”
Notamos claramente uma reconquista da compreensão teológica do culto que na antiguidade cristã se concebía como Sacrificio Eucarístico. Vemos que nessa teología do culto o Mistério de Cristo invade toda a vida cristã. O centro desse culto é Cristo, morto e ressucitado. Ao Sacrificio de Cristo toda assembleia celebrante é inserida. O Sacrificio de Cristo é o Sacrificio do Cristão.
Assim, tudo o que se refere ao serviço de Cristo pela salvação da humanidade é associado aos seus discípulos-missionários. Por exemplo, a convicção dos primeiros cristãos sobre o novo Templo que é Cristo, derivava a certeza que toda comunidade cristã são pedras lapidadas pelo Espírito Santo. Do mesmo modo, a teología do altar como sendo o Senhor que se oferece como vítima de expiação, leva os cristãos a reconhecerem que são altar, a exemplo de Cristo. Por fim, quanto ao Sacerdócio de Cristo – Único, Sumo e Eterno – os cristãos assumiam com fé a  participação neste Sacerdócio (dimensão real e dimensão ministerial). Toda a existencia cristã transforma-se no exercício de um sacerdócio santo, para oferecer sacrifícios espírituais a Deus por meio de Jesus Cristo.
Como diz anteriormente a citação da SC “…Exprimam na vida e manifestem aos outros o Mistério de Cristo e a autêntica natureza da verdadeira Igreja…” Eis o desafio para todos nós, eis o desafio para a Igreja de Crato que se prepara para celebrar cem anos da presença de Jesus e do seu Evangelho no chão da sua história.
Devemos investir no sonho do Concílio que busca comunidades cristãs que celebrem uma Liturgia “…que edifica os que estão na Igreja em templo santo no Senhor, em morada de Deus no Espírito, até à medida da idade da plenitude de Cristo, robustece de modo admirável as suas energias para pregar Cristo e mostrar a Igreja aos que estão fora, como sinal erguido entre as nações, para reunir à sua sombra os filhos de Deus dispersos, até que haja um só rebanho e um só Pastor.” Por isso, os ritos cristãos (batismo, Eucaristia, Confirmação etc.) deverão ser a expressão perfeita e única do culto espiritual, porque são sinais nos quais se condensam a presença santificadora do mistério de Cristo e sua presença santificadora nos fiéis.
Acreditemos na ação do Espírito que tudo recria e renova e tomemos cuidado com certas correntes ideológicas que buscam ofuscar o verdadeiro sentido do culto onde a vontade de fazer espetáculo não é menos evidente que a intenção de colocar uma auréola de sacralidade nas pessoas e nas coisas que intervêm na ação cultual. Renunciemos, portanto, uma liturgia que se torna espetáculo e abracemos todos juntos uma liturgia que se faz vida. O Culto Litúrgico almejado por toda Igreja não é a de uma ação organizada ao lado da vida, mas constitui a mesma razão do ser cristão, isto é, criar seres humanos que vivam em Cristo.

Laudent te, Domine, ora nostra, laudet anima, laudet vita;
et quia tui muneris est quod sumus, tuum sit omne quod vivemus.
Per Christum Dominum Nostrum.
Que nossas bocas te louvem, Senhor, louve a alma, louve a vida;
pois tudo o que somos de ti recebemos, é teu tudo o que vivemos.
Por Cristo Senhor Nosso. (Sacramentário Veronense 1329)

Pe. José Ricardo Barros de Sales é Mestre em Teologia com especialização em Teologia Litúrgica pelo Instituto Superior de Liturgia de Barcelona-España; Professor do Curso Teológico do Seminário São José da Diocese de Crato; Assessor da Pastoral Litúrgia Diocesana e Vigário da Paróquia de São José Operário – Crato-Ce.

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